domingo, 2 de dezembro de 2012

Polônia: Wroclaw, Varsóvia, Auschwitz e Cracóvia


A viagem à Polônia foi marcada por muitos acontecimentos inusitados e divertidos. Essa viagem envolve campos de concentração, mendigos, baladas, pernoites em trem, desenrolo com cobradores e até ataque de hooligans. E tudo isso em apenas 4 dias e 3 cidades.

Wroclaw
Também conhecida como Breslau, é a quarta maior cidade da Polônia e o nosso primeiro destino por um motivo simples: os vôos eram baratos para lá a partir de Paris. Possíveis serem comprados a 50 euros ida e volta. Viajei junto de uma amiga que convidou também uma outra amiga dela, 3 pessoas, que considero ser a quantidade perfeita pra se mochilar. 

Chegamos em Wroclaw um pouco antes do anoitecer e pudemos dar uma volta pelo centro da cidade. Muitos prédios característicos da Europa Central, com pequenos parques e árvores espalhadas pela cidade. Uma paisagem agradável aos olhos.
Ainda neste dia pegaríamos o trem para Varsóvia, passaríamos a noite nele pois a viagem seria longa com cerca de 7 horas se não me engano. Vale lembrar que pra um passeio organizado é bom comprar com antecedência as passagens de trem entre as cidades, assim montando um roteiro prévio.
Antes de anoitecer fomos a um restaurante na praça central para jantar. Um prato muito gostoso da Polônia é chamado de "pierogi": bolinhos de massa, normalmente recheados com repolho e/ou cogumelo, carne, batata e/ou queijo temperado, coalho doce de queijo com uma pitada de baunilha, ou mirtilos ou outras frutas. Nas versões doces são cobertos com creme de leite, e açúcar. São realmente deliciosos e o melhor de tudo: baratos!
Após jantar demos mais um passeio pela cidade visitando lagos, pontes, igrejas e parques e então partimos em direção a estação de trem rumo a Varsóvia. No tempo que ficamos lá esperando o trem pudemos nos distrair com um acontecimento inusitado: mendigos que ali dormiam discutiam e se empurravam. Engraçado que eles eram bem idoso então era como ver uma corrida de caramujo em câmera lenta. Depois de algumas risadas à la Hulk pegamos uma cabine no trem que mais parecia uma mini favela do Vidigal e ali roncamos até o destino. E por pouco não perdemos a parada, pois uma vez o trem na estação é necessário ser ágil pra se arrumar e sair pois ele não espera. Saímos por pouco.

Varsóvia

Chegamos bem cedo em Varsóvia. Tomamos café na estação e fomos passear pela cidade. Varsóvia é a capital e maior cidade da Polônia. Nela encontra-se o museu do famoso Chopin. Um museu ultramoderno dedicado ao músico e compositor Frédéric Chopin que viver no início do século XIX. Nunca fui muito fã de museu mas o legal de se viajar com amigos é isso, você acaba visitando lugares que sozinho não visitaria.


O centro histórico de Varsóvia é incrivelmente lindo. Acho que de tanto que fiquei deslumbrado acabei esquecendo de tirar uma foto..Uma pena..
Após rodar o resto do dia por la, paramos pra almoçar e tomar um sorvete. Uma cena bacana foi ver um monte de crianças correndo em direção às sorveterias com um monte de moedinha nas mãos junto de sorrisos inocentes...Aquele monte de cabecinhas loiras...O que é impressionante porque na Polônia parece que todo mundo é loiro! E bem...sobre as mulheres não preciso nem falar nada... Deixei o país tendo a certeza de onde encontraria mãe dos meus filhos! haha!
Bem, se as crianças tinham direito porque não nós? Compramos uns sorvetes diferentes, altos e azuis...algo que não se vê todo dia.


Visitamos umas lojinhas que trabalhavam com Âmbar, aquela resina fóssil bem rara e bonita, comum na região. Acabei comprando um par de brincos pra dar de presente, tudo muito bonito, mas um pouco caro.
Antes do entardecer fomos visitar um parque não distante do centro, muito agradável, arborizado e o clima ainda ajudava com um sol não tão quente e um vento suave e agradável. Poderia passar horas ali só pelo prazer de estar.




Saindo no parque ainda encontramos uma churrascaria brasileira, com picanha de verdade!! Nem com muita fome a gente tava mas encontrar uma churrascaria ali no meio da Polônia...fomos obrigados a conferir. E valeu a pena. Foi meio correria pois ainda íamos pegar o trem pra Cracóvia, mas deu tudo certo. Quer dizer, quase. No trem tivemos um pequeno contratempo na hora de validar os bilhetes. Havíamos comprado um com desconto especial pra estudante, mas não percebemos que a promoção era válida apenas pra estudantes locais. Foi uma pequena confusão e depois de muito desenrolar conseguimos passar no migué. 

Cracóvia
Chegamos a noite em Cracóvia. Fizemos check in em um albergue por lá e tomamos um banho revigorante. Partimos direto pra balada. A boate era um pouco diferente das que a gente estava acostumado na França, mas também não se assemelhavam as do Brasil. Tinha um perfil a parte. O que mais me chamou a atenção foi o preço das bebidas. 10 doses de vodka com um licor por menos de 10 euros...era de graça! Na França você pagaria no mínimo 5 vezes esse valor. Curtimos a noitada la e voltamos pra dormir pois no dia seguinte havia combinado no albergue de pegar uma van que nos levaria até o campo de concentração de Auschwitz.

Auschwitz
Prefiro fazer uma outra postagem apenas relatando essa experiência, que foi única e emocionante. Em breve vou relatar.

Cracóvia - Wroclaw 
O passei em Cracóvia foi rápido. Estávamos cansados também e só teríamos o resto do dia antes de pegar o trem de volta a Wroclaw e de lá para o aeroporto. Mas ao passearmos pela cidade pudemos perceber o tamanho da beleza desta. Tudo muito organizado. Eu pelo menos na minha cabeça não imaginaria a Polônia um país assim.


Ainda pudemos fazer um último lanche, tomar uma última cerveja polonesa (levemente amarga) e experimentar uma sopa de cogumelos (não alucinógenos!) feita dentro de um pão. Um prato bem curioso e ainda mais gostoso. Você tomava sua sopa enquanto mordia as beiradas do recipiente. Prático, não?
Ainda passamos na famosa fábrica de Oskar Shcindler um personagem heroico da segunda guerra mundial.



A viagem chegava ao fim. Pegaríamos o último trem e então voltar pra casa. Acontece que não seria tão simples assim...
A estação estava em reforma o que dificultava o acesso às vias. Estávamos em cima do horário e não conseguíamos acessar a plataforma do nosso trem, corríamos pra cima e pra baixo, prum lado e pro outro nado. O horário tinha chegado. A única opção seria cruzar as linhas de trem a pé. E assim fizemos. Corri na frente pra segurar o trem. Pulava na linha do trem, jogava a mochila pra cima, escalava a via. Quatro vezes seguidas, com o trem já pestes a partir. O guarda me parou. Ele não falava inglês nem eu polonês. As meninas seguiram, eu fui junto. A porta do trem estava aberta, pelo acesso dos trilhos. Entramos com a ajuda de uns caras. Eles pegaram nossas mãos e fazendo festa pela situação entramos enfim. E isso seria o começo de uma longa viagem. Pois na verdade o trem estava repleto de torcedores do time local que depois de muitos anos havia sido campeão. Todos altos, fortes, de cabeça raspada, bêbados e gritando. Ficaram nos oferecendo cerveja, cigarro e puxando assunto. Apenas queríamos passar pra nossa cabine. Quando as meninas disseram que éramos brasileiros a festa deles foi grande. Tentaram abafar as meninas. Eu sabia que a situação tava punk pra gente. Por um milagre conseguimos ultrapassar a barreira humana, o famoso corredor polonês e andamos até o próximo vagão. No espaçamento que conecta os dois vagões nos deparamos com um aglomerado de policiais de tropa de choque. Perguntamos se podíamos ficar ali, espremidos, e eles deixaram. Tinham mais 2 ou 3 pessoas ali já também. Eles nos aconselharam que na próxima parada descêssemos do trem e entrássemos pela frente, que estaria mais tranquilo. Após quase meia hora fizemos isso. Entramos pela frente do trem e entramos em uma cabine fechada. Lá tinha já uma mulher que dormia e um monte de policial. Eles saíram e ficaram do lado de fora da cabine pra nos dar lugar pra sentar. Pensávamos que havia acabado o sufoco e pudemos então relaxar e fechar os olhos pois a viagem ainda duraria por horas. Cerca de 1 hora se passou e  o trem parou. Acordei no susto. Havia uma confusão do lado de fora. Os torcedores haviam descido e junto deles os policiais. Era uma gritaria e cantoria sem fim. Me senti no filme Hooligans com Elijah Wood. O trem retomou o caminho. Fechei novamente os olhos. Mas só por alguns minutos. Iria perceber então que de fato os policiais haviam descido e deixado nosso corredor, mas os torcedores ainda restaram, aos montes. Um deles abriu a porta da cabine, meteu a cabeça pra dentro e meio que deu um susto na gente. Uma das meninas acordou assustada. Pressionei a porta com meus pés fechando-a. E continuei com os pés lá pressionados. E assim seria a viagem mais longa da minha vida. Por horas permaneceria ali, com os pés pressionados enquanto por muitas vezes os torcedores tentariam abrir as portas. Como estavam bêbados e irracionais sabia que se entrassem ali e vissem as duas meninas poderia ser um grande problema. Então não me restava outra alternativa a não ser ficar e segurar a porta. Por vezes eles forçavam tentando entrada, e algumas vezes não tinha força pra segurar e a porta se abria lentamente exigindo ainda mais força pra fechá-la. Horas se passavam e minha perna já tremia. Por sorte a cada parada do trem muitos torcedores desciam e as investidas diminuíam. Uma das meninas permaneceu acordada comigo, assustada. A outra, em sono profundo, podia acontecer o apocalipse que acho que ela não levantava. Mas só em saber que eu era responsável pelas duas me sentia na obrigação de ficar ali. O fim da viagem se aproximava e amanhecia lentamente. Quase não escutava mais barulho vindo do lado de fora. Foi então que pude descansar de fato. Minutos depois o trem chegaria ao destino. E de lá iríamos ao aeroporto e de volta pra casa.
Amanheceu e descemos do trem, saí mancando mas com sensação de dever cumprido.
Bardos cantariam sobre meus feitos, guerreiros me teriam como inspiração, idosos contariam aos netos essa história, lendas ecoariam pela eternidade...